21 de nov. de 2011

Liberdade ou vulgaridade?

Reproduzimos o artigo de nosso amigo e cliente João Augusto Rodrigues, diretor do Grupo Líder/Magazan, publicado no último sábado em O Liberal.

O artigo merece ser lido, e suas palavras refletidas por todos.

Nós, da Mendes, não só concordamos com ele como assinamos embaixo.

“Em nome da liberdade de expressão, um valor sagrado nas democracias, onde efetivamente se fazem valer os interesses coletivos e os direitos individuais, estamos assistindo, até com certo aturdimento, um mergulho de parcela da humanidade, aqui e lá fora, no que é um abismo de mau gosto, de grosseria, de ignorância e boçalidade. Poderíamos ir mais longe, mas fiquemos com apenas três casos, mais recentes e (no meu entendimento) emblemáticos do mundo equivocado pelo qual, com muito gosto de algumas pessoas, estamos enveredando.

Recentemente tivemos o caso de um famoso humorista, astro de um programa com grande audiência na televisão, que se referiu de forma grosseira e insultuosa a uma cantora, também famosa, e ao filho que ela carrega no ventre. Para determinada corrente de opinião, que abriga os mais “progressistas” e “descolados”, o comediante estava apenas fazendo graça. Não estava. Querendo fazer humor, ele foi apenas obsceno e indecoroso.

Outro assunto em evidência, e também muito controvertido, é o debate que vem se travando no Brasil, já há algum tempo, sobre a legalidade dos atos públicos programados para diversas capitais e grandes cidades brasileiras em defesa da descriminalização da maconha. Esta semana, pacificando a questão e pondo fim à polêmica que vinha se prolongando há mais de um ano, o Supremo Tribunal Federal decidiu, também em nome da liberdade de expressão, que passa a ser livre a chamada “marcha da maconha”.

Bom, aí temos que passa a ser livre a defesa de uma prática que é tipificada como crime no Código Penal. Já não podemos reclamar, nem mesmo nos espantar, quando e se outros grupos passarem a reivindicar o direito de defender, em vias públicas, novas ações criminosas. Se é livre o direito de marchar em defesa da maconha, por que não haverá de sê-lo também em defesa da cocaína, do crack e outros entorpecentes? E mais: se a liberdade de expressão pode tudo, quem pode garantir que não possamos vir a ter em pouco tempo manifestações de rua em defesa do latrocínio, do assassinato, do estupro e da pedofilia? Afinal, se pode a defesa pública um crime, por que não pode a defesa outro, se a todos se aplica o mesmo pretexto da liberdade de expressão?

Os dois casos, pelo menos no meu entendimento, tentam impor conceitos e valores que são contrários não somente à nossa cultura e à nossa formação, mas também ao bom senso e às regras de civilidade e de convívio social sob o amparo da lei. E o que dizer, agora, da campanha publicitária de uma famosa griffe de roupa que pôs no ar imagens simulando beijos com roçar de lábios entre grandes líderes mundiais?

Que sentido pode fazer, por exemplo, a simulação de um beijo entre o líder da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, e o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, justo num dos momentos mais delicados de uma crise diplomática que se arrasta há décadas? Ou, ainda, entre os presidentes americano Barack Obama e o venezuelano Hugo Chávez? Ou, para ficar só nestes, entre o papa Bento XVI e Ahmed Mohamed el Tayeb, imã da mesquita de Al Azhar no Cairo?

Tentar, como fez a empresa, justificar as imagens como singela expressão de paz é apenas uma bobagem praticada de má fé. Isso não é liberdade de expressão, mas tão somente apelação e vulgaridade. Que vergonha!”