Oswaldo Mendes, fundador e diretor da Mendes Comunicação.
Tal como o peixe, que foi o último a descobrir a água, paraense hoje na meia-idade nasceu dentro de uma taça de guaraná.
Sim, era de bom-tom servir guaraná em taças, as mesmas que serviam o champanhe antes do advento do flüte e antes da chegada das colas.
Depois do guaraná, a segunda bebida mais importante do Pará, no fim da primeira metade e no começo da segunda parte do século passado, era o uísque. O bom e genuíno escocês, em grande parte contrabandeado diretamente da origem.
Juntar o guaraná nosso de cada dia com o uísque importado parecia ser destino traçado pelos deuses, que nunca ninguém se perguntou sobre o pai da ideia pai-d´égua, como costumamos os paraenses saudar algo genial, bonito, fantástico.
Institucionalizou-se o uísque com guaraná em copos altos e com gelo.
Entendo como sinal de respeito às duas bebidas o fato de a sua mistura não ser batizada com nome, sequer apelido.
Uísque com guaraná – primeiro, o uísque, porque o paraense, sempre gentil, cede lugar para os seus convidados, para os mais velhos, os forasteiros...
O nosso guaraná e o uísque escocês têm praticamente a mesma cor, e assim nasceu uma confraria impensável e informal unindo, pelo mesmo copo, os apreciadores do uísque com os abstêmios, porque tomar guaraná em copo alto (quase sempre com gelo) virou moda.
As festas ora pareciam encontros de gente comportada, todos bebendo guaraná, ou farras de adoradores do uísque, conforme as preferências e os olhos de quem as enxergava.
Estudante descobrindo a América, descobri, trabalhando no metrô de Nova Iorque, um paraense há longos anos fora do Pará. Pôs-se ele a listar as coisas de que mais sentia falta e que, um dia, previa, ainda o trariam de volta à terrinha. Pois o guaraná era uma dessas saudades.
Artigo publicado no Jornal Propaganda & Marketing, de São Paulo, edição comemorativa de seus 45 Anos.