FERNANDO JARES MARTINS
“NADA HÁ DE MELHOR PARA O
HOMEM DO QUE ALEGRAR-SE COM O FRUTO DE SEUS
TRABALHOS”
O mais importante economista do Pará não era economista por formação acadêmica, mas foi doutor Honoris Causa pela UFPA e Unama; dominando a linguagem complexa da economia, das antigas fórmulas de desenvolvimento às mais modernas técnicas de crescimento sustentável, era capaz de escrever com leveza e atração quase mágica, textos do coração, como em “Cidade Transitiva”.
“Armando Mendes, que deu ao mundo lições de Amazônia, morre em plena Rio+20.” Foi assim, via Twitter do jornalista Palmério Dória, que eu soube, na manhã de ontem, domingo, do falecimento do dr. Armando. Dois dias ando meio desligado, como diriam Os Mutantes, e já a vida me prega esse susto. Sem muito traquejo com essas coisas e escreveres da economia, muitas vezes na vida vali-me de seus escritos e pensamento para entender lições da Amazônia, e chegar até onde precisava. Admiro-o de muitos anos, desde a juventude, antes mesmo de ter tido a oportunidade de trabalhar/aprender com seu irmão Oswaldo Mendes.
Intelectual de primeira linha, como eu imagino os melhores intelectuais, capaz e sempre motivado a dividir seu conhecimento. Aparência de carrancudo, com a cara séria que Deus lhe deu, uma simpatia quando com ele se falava.
Não vou ficar aqui escrevendo, escrevendo e escrevendo sobre Armando Mendes, um daqueles sujeitos que nos enche de orgulho de sermos paraenses. Foi-se derrepentinho, como certos pássaros que vemos nas copas das árvores: levantam voo e nunca mais os vemos. Mas fica a lembrança do canto ou da beleza da plumagem. Como Armando Mendes, que nos deixa a lembrança de um conhecimento afiado, atualizado, a serviço de sua gente. Nós.
Palmério foi conciso na definição. Como o foi o professor João Tertuliano Lins, da Faculdade de Economia da UFPA, amigo e aluno de Armando Mendes: “perdi um grande mestre e um segundo pai. Sua contribuição para a Amazônia e para a Universidade é imensa e sua perda é irreparável. Ficam na lembrança seu constante bom humor, disposição e cultura invejáveis.” (leia mais, no Portal da UFPA, clicando aqui).
Distante muitos quilômetros de minha toca de guardados, busco a abertura do “Cidade Transitiva”, que à época do lançamento dei ao meu genro e cá está muito bem conservado. Nela Armando Mendes usou, como uma das epígrafes, dois versículos do capítulo 3 do Eclesiastes:
“Há um tempo para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu.” (vers. 1) e “Tempo de atirar pedras, e tempo de recolher pedras; tempo de abraçar e tempo de se separar.” (vers. 5).
Permito-me o direito de invadir a criação do mestre e acrescentar o versículo 2: “tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado” para dizer que ele cumpriu os tempos sagrados de nascer e morrer e de plantar, só que deixou para os seus contemporâneos e para as gerações seguintes o tempo de arrancar e se beneficiar com o muito que por ele foi plantado.
E o autor sagrado conclui o capítulo 3 no versículo 22: “Verifiquei que nada há de melhor para o homem do que alegrar-se com o fruto de seus trabalhos. Esta é a parte que lhe toca.”
Obrigado, dr. Armando, pela parte que nos deixou! Sua obra é inigualável. Sua carreira um modelo. Para conhecer mais sobre este grande paraense, leia seu valioso currículo, clicando aqui.
No último dia 6/6 Armando Mendes andou pelas ruas de Belém e proferiu a conferência magna na abertura do VI Encontro de Entidades de Economistas da Região Norte (ENAM), intitulada “1912 – 2012 Cem Anos da Crise da Borracha na Amazônia: Do Retrospecto ao Prospecto”. Na foto acima ele está com dirigentes de entidades de economia da região. (fonte: blog “Economia, Política e Religião”).